terça-feira, 21 de setembro de 2010

Estou tonto

Estou tonto,
Tonto de tanto dormir ou de tanto pensar,
Ou de ambas as coisas..
O que sei é que estou tonto
E não sei bem se me devo levantar da cadeira
Ou como me levantar dela.
Fiquemos nisto: estou tonto.

Afinal,
Que vida fiz eu da vida?
Nada.
Tudo interstícios,
Tudo aproximações,
Tudo função do irregular e do absurdo,
Tudo nada.
É por isso que estou tonto...

Agora
Todas as manhãs me levanto
Tonto...

Sim, verdadeiramente tonto...
Sem saber em mim e meu nome,
Sem saber onde estou,
Sem saber o que fui,
Sem saber nada.

Mas se isto é assim, é assim,
Deixo-me estar na cadeira,
Estou tonto.
Fico sentado
E tonto,
Sim, tonto,
Tonto...
Tonto.

Álvaro de Campos, um dos heterônimos de

Fernando Pessoa
(1888-1935)

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